Wikileaks é uma palavra que faz muitos governos transpirarem quando a ouvem. A sua ação e objetivos mostram um novo lado da governação mundial e por esse motivo é necessário e extremamente interessante perceber como é que esta organização multinacional de media com uma biblioteca associada tem impacto no mundo e nas políticas externas dos países. Assim como, perceber como atua e os meios que utiliza.
Primeiro, é necessário perceber que a Wikileaks não funciona sozinha, sendo que estabelece relações com mais dos 100 melhores meios de comunicação do mundo, muitas delas, sustentadas através de contratos. Esta situação faz com que o seu impacto e poder atinja uma escala enormíssima. Através de diferentes ligações, que têm sido criticadas e investigadas por não serem as mais fiáveis, consegue a informação que depois é analisada e tratada dentro da organização.
Wikileaks parece ser fundada sobre as bases da justiça e tem como principais objetivos informar e educar a população em relação ao que é guardado pelos governos do mundo inteiro. Apesar do fundador da organização, Julian Assange, afirmar que não gosta do conceito de transparência; “To be honest, I don't like the word transparency; cold dead glass is transparent. I prefer education or understanding, which are more human…” a verdade é que este também está relacionado com a wikileaks.
O conceito de transparência é extremamente discutido em Ciência Política, criando muitas perspetivas em relação ao mesmo. Existem, por exemplo, aqueles que argumentam que a transparência é a melhor política pois, dá toda a informação à população que segundo princípios democráticos é a quem realmente detêm o poder. Mas existem também aqueles que argumentam que dar toda a informação a uma população que, por vezes, não sabe interpretar o que lhe é dado pode resultar em mais caos do que organização. A verdade é que todos os Estados escondem informação e, por isso, o Wikileaks é considerado uma das maiores ameaças à sua estabilidade assim como à sua soberania.
Países como os EUA, a Alemanha, Suécia e até mesmo a Austrália têm dado início a processos contra Julian Assange, preso no início de 2019. A razão por detrás destes processos passa pelo facto da organização Wikileaks ser um ator político tão poderoso que tem conseguido afetar a política externa de diversos países, de uma forma que provavelmente nenhum país está preparado para lidar. Através da internet, disponibiliza informação que faz com que a perceção que se tem de cada país mude completamente. Em 2010, um estudo feito na Alemanha mostrou que 88% dos alemães apreciavam o governo dos EUA, mas depois de documentos sobre a Agência de Segurança Nacional terem sido divulgados, a taxa caiu para 43%. Mudanças da mentalidade de populações obrigam a que exista uma mudança e reavaliação das medidas de política externa. As circunstâncias mudam com a ação do Wikileaks: está tudo mais exposto e olhos estão mais atentos.
Os estados, em geral, têm tentado manter a sua soberania, exercendo mais controlo sobre a internet e o Wikileaks, mas estes são componentes globais que não conseguem ser reduzidos e controlados internamente. Por exemplo, os EUA fazem com que “Every federal government employee and every contractor received an e-mail stating that if they read something from WikiLeaks including through the New York Times website, they have to remove this from their computer immediately and self-report.”. Mesmo assim, a força de um estado sozinho não tem sido suficiente para enfrentar um conjunto crescente de cidadãos que tem feito pressão para que existam reformas democráticas e de transparência.
É verdade que a Wikileaks não pode ser descrita como a grande salvadora da pátria e dos indefesos, sendo que, como já afirmei, a forma como adquire a informação pode ser condenável assim como a forma como a divulga. Afirmam basear-se nos conceitos de justiça e em objetivos como educar e informar as pessoas, todavia casos como o de Hillary Clinton, fazem com que seja claro que, por vezes, só divulgam a informação que é benéfica para o que consideram ser a melhor solução para o mundo. Como muitos outros, em vez de fornecer as ferramentas para os indivíduos criarem a sua própria opinião, conduzem-lhes o pensamento.
Uma conclusão inescapável é que a soberania estatal está a ser enfraquecida e/ou desafiada, dando azo a que seja direcionada para outros campos e reimplantada nos cidadãos. O caso Wikileaks tornou-se “um pau de dois bicos” porque de um lado disponibiliza informação importante para manter a população informada e questiona a ordem internacional ativa, mas por outro lado, traz consigo fontes ilegítimas e jogos de poder permitindo um conflito vívido entre aqueles que vêm a transparência como essencial e aqueles que a criticam por engendrar uma falta de responsabilidade e uma incapacidade de controlar os danos que advêm com a mesma. Apesar disto, é também importante concluir que a visão estatocêntrica predominante na nossa sociedade, que faz com o conceito de política externa esteja relacionado, exclusivamente, ao de Estado é questionada pela existência de outros atores internacionais que também se englobam no conceito.
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