Líbia,
outrora um país pacífico e tranquilo, esta nação vive nos dias de hoje um
terrível conflito armado entre as suas gentes. Em 2011 após a morte de Muamar
Kaddafi, a comunidade internacional acreditava ser possível a criação e
instalação de um regime democrático nesta nação. Uma ideia errada.
Nação
rica em petróleo, a Líbia era alvo de cobiça por vários atores internacionais
desde a virada do século. Kaddafi lidava com uma guerra civil no inicio de Março
de 2011, quando as potencias ocidentais, nomeadamente os EUA e a França em
conjunto com outros países resolveram intervir. O seu objetivo, eliminar
Kaddafi e posteriormente implantar um regime democrático no país. Assim, o
ditador é capturado a 20 de Outubro perdendo a vida no seguimento de ferimentos
provocados durante a batalha de Sirte. Abria- se assim no entender dos demais
atores envolvidos a possibilidade de pacificar o país democratizando-o. Contudo
essa paz foi algo relativa e efémera.
Em
2014 surge de novo o conflito, desta vez protagonizado por 5 facões.
O
governo dos representantes da Líbia que detinha a lealdade do exército nacional
líbio, o governo internacionalmente reconhecido como Governo de acordo nacional,
o governo islamita rival liderado pela irmandade muçulmana, o conselho da shura
de revolucionários de Bengazi e por ultimo o estado islâmico do Iraque e do
levante da Líbia.
As
milícias que antes tinham lutado para derrubar o ditador no poder há mais de 30
anos, lutavam agora entre si, arrastando o país para o caos, para a
ingovernabilidade.
Assim,
um estado que detinha um governo forte e possuía o controlo sobre todo o seu
território, passou infelizmente para uma situação em que cada milícia
administra uma parte do território exercendo a guerra na tentativa de
conquistar a totalidade do poder político.
A
situação da população tornou-se insustentável. A emigração ilegal para a Europa
aumentou em resultado de tudo isto, levando milhares de pessoas a tentar
atravessar o mediterrâneo na esperança de um futuro melhor, para si e para os
seus. A europa provou do seu próprio veneno, ao derrubar Kaddafi que no seu
tempo exercia um controlo efetivo sobre a emigração, criou um novo problema,
com milhares de pessoas a exercerem uma enorme pressão na sua fronteira externa
a sul.
Como
não bastasse tudo isto, deixou-se ainda que o estado islâmico, que tanto tem
dado trabalho ao ocidente na Síria e no Iraque, implanta-se também na Líbia,
com o objetivo de tomar o poder e com isso criar uma rampa de lançamento para
atacar a Europa.
A
Libia é hoje um país a saque, sem rumo nenhum, onde cada um disputa o poder sem
a mínima noção do impacto da sua disputa na vida quotidiana das populações.
A
europa tapa o sol com a paneira, ou finge que a Líbia é um problema resolvido
ou então usa a Síria como assunto prioritário. Os EUA também com culpas no
cartório, já nem falam do conflito que iniciaram em 2011, muito menos assumem a
sua cota parte de culpa em toda a situação.
Com
mais olhos que barriga, derrubou-se um déspota que apesar de enfrentar a ordem
internacional estabelecida e muitas vezes ter-se negado a jogar o jogo do
ocidente, era capaz de controlar efetivamente o país, tendo o mesmo até
registado alguns desenvolvimentos assinaláveis, como a erradicação do
analfabetismo.
Tentou-se
forçar a democracia num país em que a sua cultura não esta preparada para a
abraçar, tentou-se ocidentalizar um país que apesar de todos os defeitos que
tinha, era um país pacífico e que sobretudo não representava uma ameaça
alarmante e imediata.
Sempre
que o ocidente interfere no Magrebe, as consequências dessas interferências têm
sido sempre muito mais nefastas que positivas. Há que ter ponderação sobretudo
quando lidamos diretamente com uma fronteira externa da União europeia, na qual
devemos exercer esforço para que esteja pacificada e tranquila.
Este
conflito que se desenrola há já 5 anos na Líbia vai provavelmente arrastar-se
no tempo e culminará com a subida ao poder de outra personalidade com toda a
certeza muito similar a Kaddafi, não no seu estilo pessoal, mas na forma de
governo exercida.
A
alteração de um regime não deve ser uma imposição externa, é o próprio estado e
a sua população, que no momento certo e com as condições certas deve decidir a
favor ou não da democratização. O regime democrata não subsiste num estado onde
não exista tolerância, liberdades e garantias. A cultura política é neste caso
determinante na subsistência ou não do regime.
Infelizmente
a Líbia é apenas mais um caso num rol de intervenções que as grandes potencias
tem exercido em países menores ao longo do último século.
Na
tentativa de resolução de um problema, o ocidente criou muitos mais, problemas
esses que são agora muito mais difíceis de resolver.
Hiperligações:
https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/2019050413809139-libia-tripoli-haftar-sarraj-guerra/
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