Durante muito tempo as relações
entre os países árabes e Israel sempre foram sendo desenvolvidas no “backstage”,
devido a diversos fatores, sendo que o principal é obviamente o conflito
Israelo-Palestiniano, que se vai estendendo no tempo, sem fim à vista. Em 2002,
estes países que agora reatam relações com a nação sionista acordaram a
existência de dois estados para este conflito. Embora este acordo ainda não se
tenha concretizado, os países “viram costas” ao povo palestianiano com a
presença na Cimeira de Varsóvia, em Fevereiro de 2019.
Esta
cimeira, organizada pelos Estados Unidos da América, pode ser o início de “uma
nova era”, segundo o vice-presidente americano Mike Pence, nas relações entre
os países do Golfo e Israel, com os E.U.A. como mediador das mesmas. Estas
conversações, em que, para além da participação de vários países do Médio
Oriente também a União Europeia, alguns estados-membros e muitos outros como
Brasil ou India, tiveram dois objetivos
principais: a organização de uma “força” que permita o isolamento do Irão (que
insiste no incumprimento das sanções lançadas pelos E.U.A. e na recusa do
desarmamento nuclear). O outro objetivo prende-se com o desvio das atenções do
conflito Israelo-Palestianiano, em que o povo palestianiano se tem baseado em
alianças regionais para fazer pressão sob o estado de Israel para a cedência de
territórios e reconhecimento oficial de um estado palestiniano.
Com
isto, os E.U.A. vêm agora tentar influenciar os países árabes que participaram
nesta cimeira (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Iémen, Omã, Kuweit e Bahrain)
a ignorarem os anteriores acordos acerca do conflito com a Palestina e a
integrarem a esfera de influência americana, principalmente como forma de
contenção do poderio regional que a teocracia iraniana está a tentar (e a
conseguir) desenvolver, afirmando-se como um dos estados mais influentes no Médio
Oriente e que contraria as ameaças e diretivas americanas, impondo-se perante a
superpotência, revelando a sua perspetiva de anti-americanismo. Os países
árabes tentam ainda encobrir
estes avanços nas relações com Netanyahu, pois não pretendem a mediatização das
mesmas, ao contrário do governo israelita, que não esconde estas conversações
nem o pretende fazer, colocando as relações entre países do Golfo e os seus
parceiros árabes numa situação complicada e complexa. Quando confrontado com a
possibilidade da agudização de um conflito com a Palestina, um teórico
emirádico refere que, “estas relações com Israel são sobre interesses comuns,
sobre o Irão, sobre interesses, não sobre emoções”, revelando o caráter
estratégicodestas negociações sem precedentes e, sobretudo, o caráter
geopolítico e geoestratégico que Israel representa.
Através
destes acordos, Israel
reforça ainda o seu poder perante o seu grande “mentor”, os E.U.A, na
medida em que demonstra a abertura e alargamento da sua esfera de influência,
afirmando o seu estatuto de potência regional, capaz de fazer com que
tradicionais relações, como as que se mantêm entre os estados do Golfo e o
estado palestiniano, comecem a dar sinais de reviravolta e de apoio ao estado
israelita.
Contudo,
o principal elo de ligação entre os atores em análise é a questão do Irão. Esta
é a maior ameaça para todos eles, pois este estado liderado por Ali Khamenei, o
líder supremo, tem intensificado as relações com países como o Iraque ou a
Síria, afirmando-se como uma grande potência regional e detém ainda o poderio
nuclear, com que causalmente ameaça diversos estados circundantes. A estratégia
americana para o Médio Oriente passa então por reforçar o apoio nas relações
entre os estados do Golfo e Israel, para fazer face à ameaça iraniana, formando
uma espécie de “bloco” para pressionar o Irão. Neste âmbito, e como opinião
pessoal, o Primeiro-Ministro israelita, Benjamin Netanyahu funciona, mais uma
vez, como uma “marioneta” dos Estados Unidos da América e da sua estratégia de
política externa para o Médio Oriente, pois o estado norte-americano influencia
as opções do líder israelita a seu belo prazer e segundo as suas intenções para
a região. O mesmo se passa com os estados do Golfo, que ao alinharem nesta
importante cimera, demonstram o seu apoio a estas opções de política externa
americana em que a questão da contenção do emergente poder iraniano e a
normalização das relações entre os estados “vizinhos” e Israel (como forma de
reconhecimento do estado judaico) são questões centrais para a administração de
Donald Trump na sua estratégia para a região em destaque.
Fontes:
Cartoon: https://www.sott.net/article/399789-Israel-and-the-Arab-regimes-An-alliance-of-despots
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/eua-arabes-e-israel-unidos-em-varsovia-contra-o-irao_n1129250
https://www.theguardian.com/news/2019/mar/19/why-israel-quietly-cosying-up-to-gulf-monarchies-saudi-arabia-uae
https://www.brookings.edu/blog/order-from-chaos/2019/01/28/whats-behind-the-relationship-between-israel-and-arab-gulf-states/
https://www.theguardian.com/world/2019/feb/14/netanyahu-israel-arab-leaders-iran-palestine-warsaw-summit
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