Apenas há dez anos atrás, o foco nos
círculos da política externa era o papel da Internet nos assuntos
internacionais. O potencial impacto das tecnologias de conexão nas relações
externas foi uma questão emergente e de extrema importância de análise. Os Smartophones,
o Facebook, o Twitter, como ferramentas de aproximação. O Wikileaks, o Stuxnet,
a Primavera Árabe, o Gezi Park e a consolidação das comunicações digitais como
fator na formação de movimentos sociais e políticos, veiram reformular o mundo
global para o que conhecemos hoje.
Agora os círculos voltam a ter de se
adaptar. A tecnologia nova, transformadora, de uso geral, é a inteligência
artificial (IA). Entendida como um ecossistema disciplinar povoado por vários
subcampos, que usam dados para treinar tecnologias e assim simular a
inteligência humana. Nos subcampos encontram-se a aprendizagem da máquina, a
visão desta e o processamento de linguagem natural. Estas tecnologias são
muitas vezes de prognóstico, concebidas para antecipar o risco social, político
ou económico e transferir o fardo da tomada de decisão humana para um modelo,
reformulando assim a decisão doméstica que terá impacto no palco internacional.
Avanços na tecnologia como os drones de
inteligência artificial, em breve colocarão armas de baixo custo e precisão no
campo para conduzir conflitos armados sem risco humano para a força atacante. As
primeiras formas dessas armas já estão em mãos de atores não-estatais. O Estado Islâmico já está a usar drones comerciais
modificados para atacar tanques iraquianos. Algumas empresas já procuram evoluir
para a denominada fábrica "luzes para fora" em que robôs trabalham 24
horas, 7 dias por semana, para manufaturar, empacotar e enviar produtos sem qualquer
tipo de supervisão humana. A Amazon reduziu o seu tempo "Click para Enviar"
de 60 minutos para 15 minutos com o trabalho robatizado. A precisão do software de reconhecimento
facial avançou dramaticamente, garantindo às agências de segurança
extraordinários novos poderes de vigilância. Para demonstrar o potencial deste
novo poder a polícia chinesa começou a indicar os nomes dos “jaywalkers” nos placares
enormes na estrada. Todos estes acontecimentos são a degustação do que está
para vir e apenas a breve apreciação de todo o alcance desta nova tecnologia. É
seguro dizer que os dados nos dias de hoje são o novo óleo.
Actores internacionais começaram já a introduzir
a IA nos serviços administrativos, exemplo disso é o Canadá, que utiliza esta
nova tecnologia emergente como instrumento de política externa.
As aplicações da IA pertencem
a uma classe de objetos físicos e digitais que são usados para projetar a
influência canadense no exterior e em casa. As aplicações de IA têm uma série
de usos de política externa, que vão para além da percepção do cidadão,
variando entre o comércio e a defesa, para o trabalho de desenvolvimento. A IA aloca recursos comerciais, permite a vigilância em larga escala de populações muitas
vezes vulneráveis, combate o extremismo, prevê e reduz a vulnerabilidade das alterações climáticas.
A percepção mais sentida
dos compromissos do Canadá com a IA, foram através do G7, usando essa
plataforma para cultivar normas compartilhadas sobre este tema. Menos visíveis,
são as intersecções entre a IA e a
segurança nacional canadense. Até agora, a legislação canadense tem focado nos
padrões que regem a coleta de dados, que impacta diretamente relação da IA com
a segurança. Os algoritmos encontrando-se entrelaçados na tomada de decisões
políticas, também oferecem uma visão de "bem social" que pode
competir com compromissos democráticos liberais.
No
que toca à elaboração de políticas, os ministérios
estrangeiros têm a obrigação de avaliar as principais questões na intersecção
da IA e das relações internacionais, para depois orientar o desenvolvimento de
posições políticas governamentais. Particularmente nas dimensões de segurança e
ética, a trajetória das tecnologias de IA sustenta a necessidade de linhas
vermelhas que devem ser definidas e articuladas, principalmente no contexto
globalizado. Ao permitir que os governos monitorizem, compreendam e controlem
os seus cidadãos de forma muito mais estreita, a IA vem reformular o mundo como
nunca. Oferecerá aos países autoritários
uma alternativa plausível à democracia liberal, a primeira desde o fim da
guerra fria. Que irá desencadear uma renovada concorrência internacional entre
os sistemas sociais.
A
primeira e mais simples lição no que toca à introdução da IA nos sistemas
governamentais, é sobre a organização interna das instituições diplomáticas. É
necessário que sejam mais rápidas, mais experimentais e tolerantes a riscos nos
métodos para testar diferentes abordagens para a solução de problemas. É
importante que se protejam de atores mal-intencionados com a esta tecnologia já
desenvolvida. Devem ser mais ambiciosas nos esforços para integrar o conhecimento
tecnológico nas unidades organizacionais convencionais das instituições. Na
sequência desta avaliação, exigir-se-ia uma reorganização institucional muito
substancial que poucos ministérios estão preparados para introduzir, mas que
será o futuro. Á luz da evolução passada a questão é, combatemos a progresso
visivel aos nossos olhos ou adaptamos as nossas políticas para ficarmos na
vanguarda da aplicação da IA na governação e política externa?
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Imagem - Fonte: https://foreignpolicy.com/gt-essay/who-will-win-the-race-for-ai-united-states-china-data/ |
Susana Rodrigues
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