![]() |
por John Auchter |
A chegada de Donald
Trump à casa branca americana, deixou uma coisa bem clara na agenda política
americana: dar especial atenção à temática da imigração no país norte-americano,
principalmente, da realizada ilegalmente. A campanha do atual presidente
norte-americano, ficou marcada por um discurso demagogo face à problemática da
entrada de imigrantes nos EUA, sendo que o mesmo prometeu que iria ser
construído um muro entre a fronteira dos EUA com o México, financiado pelo país
sul-americano.
O problema da imigração e do racismo face aos imigrantes nos
Estados Unidos não surge com Trump, nem mesmo a construção do ICE é consequência
da chegada de Trump ao poder. ICE, que
significa Immigration and Customs Enforcement, foi construída em 2003 pela administração
de George W. Bush. Estas instituições foram construídas
sob o Homeland Security Act de 2002, um decreto norte-americano que teve como
objetivo basilar, melhorar as condições de segurança nos EUA, que se encontravam
numa situação bastante frágil após os atentados do 11 de setembro de 2001.
A verdade é que depois destes anos, a ICE, permanece mais operacional
do que nunca e na sua missão atual, tem
como principais objetivos: a localização, detenção e deportação dos imigrantes
ilegais, ou seja sem documentos, que conseguiram atravessar a fronteira com
sucesso e agora e que se encontram em solo norte-americano. No mandato de
Barack Obama, a ICE tinha como prioridade a deportação dos imigrantes ilegais que
cometessem crimes graves, mas o governo de Trump ampliou o poder de atuação da ICE,
e esta passou a ter como alvo qualquer pessoa que estiver ilegalmente nos EUA.
A entrada da administração de Trump fez com que o ICE
entrasse no modus operandi de tolerância
zero, mas em termos concretos, o que é que isso significou? Em termos
concretos, significou um aumentou no staff, bem como no
orçamento das agências ao abrigo da política da ICE, mas também de uma
alteração no tratamento às famílias que de forma clandestina entraram nos EUA
em busca do sonho americano. Com uma rutura total com o mandato de Obama, a
administração de Trump, aprovou uma ordem executiva que torna possível a separação
por tempo indeterminado em custódia federal de crianças e pais que entraram de
forma ilegal do país, sendo que de 9 de maio a 5 de junho de 2017, mais
de 2 000 crianças tinham sido separadas dos seus pais ou outros adultos.
À desumanidade de separar uma criança dos seus pais, junta-se as condições nas
quais, tanto as crianças como adultos, são mantidas em custódia pelas
autoridades, sendo que apenas neste ano, já morreram várias crianças em
custódia em instituições da ICE, as quais não conseguiram oferecer cuidados
médicos necessários a crianças e adultos imigrantes que muitas vezes chegam a território
americano, após caminhar centenas de quilómetros por terrenos difíceis. Muitos
destes imigrantes são provenientes do México, Honduras e El Salvador, e muitas
vezes sofrem de desidratação e encontram-se numa situação de saúde extremamente
frágil, devido ao enorme esforço físico que realizam.
Foram várias as reações da sociedade internacional face ao tratamento
dos imigrantes nos Estados Unidos ao abrigo da política da ICE. A importância dos
social media foi fundamental. Através destes, foi criado um movimento com o
hashtag “Abolish
ICE”, que traduzido para português “Parem o ICE”, que desde a data da sua
criação em 2017, já foram escritas milhares de mensagens com este slogan, em
todo o mundo. Mas não só no mundo digital, também foi utilizado em
manifestações, a criticar o tratamento que os imigrantes ilegais em território
americano recebem nas instalações ao abrigo da política da ICE, afirmando
o poder do Twitter como um importante ator internacional. A ONU,
representada pela Ravina Shamdasani, porta-voz do Gabinete do Alto Comissário
para os Direitos Humanos (ONHCR), que afirmou não ser
normal a detenção de crianças, como aquela que é feita ao abrigo da ICE, sendo
que "O uso da detenção dos imigrantes e a separação familiar são
contrárias aos padrões e princípios dos direitos humanos”
A verdade é que a solução face a esta violação, por completo, dos direitos humanos, passa muito por aquilo que irá ser resultado das próximas
eleições americanas, que irão decorrer no próximo ano. Numa continuidade dos
republicanos no poder, provavelmente iremos ter uma perpetuação das políticas violentas
e sem ética que se registam nos centros de detenção da ICE em todo o território
americano. Por outro lado, podemos ter uma reversão daquilo que temos assistido
pela ICE, se um candidato ou candidata democrata chegar ao poder, visto que dentro do país é
deste grupo partidário de onde surgem as vozes mais críticas face ao
tratamento dos imigrantes ilegais que atualmente se faz nos EUA, dos muitos podemos
salientar, a da congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez, que
define ICE “como uma agência
perigosa, com responsabilidade zero, onde existem relatos generalizados de violência
e abuso de poder…”
Comentários
Enviar um comentário