Mali: tentativas de manter uma paz que não existe


Após anos de submissão a uma colonização francesa, esperava-se que com a conquista da independência nos anos 60 o povo maliano se deparasse com a estabilidade como a sua palavra de ordem, mas somente a contínua hostilidade teria lugar nesta região.

Ao longo da sua extensão, encontram-se diversos grupos étnicos como os Bambara, os Fulani – atente-se que, em alguma documentação oficial, podem ser mencionados como Peuhl - os Sarakole, os Senufo e os Dogon sendo que, após uma soma das suas quotas, estes mencionados constituem mais de metade da população total. No entanto, existe, entre outros, um grupo que pode ser visto percentualmente como minoritário no Mali, mas que revelou a sua importância no ditar do rumo da história – os Tuaregues que ambicionavam por uma nação sua, árabe e independente e, com esta premissa, ainda a meados de 1960 protagonizaram o que viria a ser denominado de Rebelião Tuaregue.

Na sequência desta, um mais “recente” evento provocado por uma nova insurreição ocorreu, a janeiro de 2012, quando o Movimento Nacional de Libertação do Azauade (MNLA) se rebelou perante o mandato do Presidente Amadou Toumani Touré. Poder-se-ia estar a iniciar o ano, mas iria-se, também, dar início ao término de determinadas circunstâncias do Governo pois, com a crescente força do MNLA e o crescente suporte destes da parte de fundamentalistas religiosos com conexões à Al Qaeda, as forças militares do Mali sentiram na pele a sensação de estar sob as ordens de um suposto líder que não respondia eficazmente às necessidades e, consequentemente, estes destituíram Amadou Touré num coup d’état.

Inevitavelmente, todo o país encontrava-se profundamente instável tornando-se um alvo fácil para a implementação de crenças e interesses alheios dentro das comunidades. Isto vir-se-ia a revelar com a proclamação da “declaração de independência de Azauade” sendo, alegadamente, a região entregue ao encargo de uma aliança formada pelo MNLA com o grupo Ansar Dine – na sua tradução, Defensores da Fé. 
No entanto, não foi necessário aguardar muito até a suposta aliança começar a desvanecer e, em pouco mais de meio ano, todo o Norte de Mali estava sob o domínio da fação islâmica e sem a participação do MNLA pois, com a imposição da Sharia por Ansar Dine, estes teriam se separado.

Não havia mãos a medir e a incapacidade de proteção nacional principiou a Operação Serval – uma intervenção militar francesa - que tinha como principais objetivos o impedimento da expansão para que não se efetuasse a ocupação da Bamako – a capital do Mali – e a destruição das existentes ofensivas. 
O norte, em pouco tempo, foi retomado e a proteção de Bamako foi efetuada com sucesso mas a intervenção do antigo colonizador provocou sentimentos negativos na população que acreditava que a estabilidade em geral não seria uma prioridade para os franceses pois estes estariam a colaborar com as milícias dos Tuaregues para combater os jihadistas e, como é especificado por Nachiket Khadkiwala do Institute for Defence Studies and Analyses, nunca foi considerado como uma finalidade a mediação dos conflitos entre as comunidades do Mali mesmo que tenham apoiado os diálogos entre si.

Atualmente, a missão que originalmente ficou conhecida como Missão Internacional Africana de Apoio ao Mali (AFISMA) organizada pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) encontra-se sob a alçada das Nações Unidas sob o nome de Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para Estabilização do Mali (MINUSMA). Questionemos-nos, então, porquê é que ainda paira no ar a necessidade de uma missão se o suposto deteriorar da situação ocorreu há sete anos?

A necessidade paira devido às contínuas fracas soluções apresentadas que não terminaram, de todo, com o conflito pois como é mencionado por Nadia Ahidjo da Open Society Initiative for West Africa (OSIWA) - "Many of these groups are actually set up to combat terrorism and so they do not see community conflict or social cohesion as an issue that they should target.”. 
Para estes grupos surgiu a necessidade de formarem milícias fortemente armadas – inclusive, um perito europeu questionou como seria possível que estas tivessem cada vez mais armas e inúmeras munições sendo uma comunidade tão empobrecida - para a proteção no seu quotidiano mesmo que haja um enorme atentado aos direitos humanos dos civis como sucedeu, este ano, numa povoação em que centenas de pessoas foram assassinadas de forma brutal.

Combater violência com violência não deve ser visto como uma solução e quando parte da ajuda internacional começa a retirar-se torna-se inevitável a conexão das, por mais pequenas que sejam, semelhanças do genocídio do Ruanda com o conflito que está a acontecer no Mali. 

Em suma, aqueles que afirmaram que o conflito teria de ser resolvido internamente não estariam assim tão errados - só não lhes ocorreu que os lideres encarregues de guiar a sua população iriam permanecer tão fracos e incapazes e que os conflitos no continente africano carecessem de soluções, muitas vezes, por falta de verdadeiro interesse da ajuda – no seu verdadeiro sentido - internacional que pode considerar esta região quase como um supermercado de recursos - e não como o lar de membros de uma das mais antigas e ricas culturas – que deve estar entregue ao seu próprio destino mesmo que esse destino seja sanguinário. 

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