Síria vs. UE: vaivém de ajuda humanitária

A Europa intervém – Patrick Chappatte


O regime de Assad está mais perto de vencer o conflito sírio de 2018. Com o apoio da Rússia e do Irão, restabeleceu um regime forte e autoritário, principalmente fora da zona de conflito onde a sua presença ainda é reduzida.

A expansão do regime de Assad levou a que países, tanto europeus como Estados-membros da UE, ficassem de “pé atrás”. A posição da UE manteve-se com o recuo das sanções contra a Síria e qualquer oferta relativamente à ajuda para a reconstrução do país dependia do regime de Assad em concordar com um processo político inclusivo. Mas como Assad se recusava a aceitar qualquer processo deste tipo - inclusive, alterou a política de financiamento externo, permitindo que apenas os apoiantes do regime tenham acesso ao mesmo –, a UE não ofereceu qualquer ajuda à reconstrução. No entanto, já foram arrecadados entre os Estados-membros cerca de 17 mil milhões de euros para serem aplicados em desenvolvimento económico e ações humanitárias.

Se o regime recuperar o controlo total e a UE suspender a ajuda à reconstrução síria, a influência europeia sobre o futuro deste país parece ser mínima. A UE parece ter-se ausentado da última fase da diplomacia. Foi o peso militar e diplomático turco que levou o presidente russo, Vladimir Putin, e Bashar al-Assad, da Síria, a concordar com um espaço neutro em torno da última oposição na província de Idlib e suspender um ataque militar. A UE não conseguiu alcançar nada tão tangível.

É neste contexto que os Estados europeus têm fechado ou reduzido os seus projetos em terrenos sírios. O regime de Assad dissolveu muitos dos conselhos locais da oposição que eram financiados pela Europa e por organizações da sociedade civil. Os jihadistas assumiram o controlo do governo de Idlib, levando os Estados europeus que contribuíram a cortarem a linha de financiamento ou a reorientar a área em torno de Raqqa para a zona leste. Este processo levou a que surgissem outros financiadores, desta vez países “não-ocidentais”.

Muitos diplomatas europeus não estão dispostos a aceitar a premissa de que o conflito está totalmente terminado, embora tendo dúvidas de que o regime possa efetivamente manter-se e exercer o seu poder a longo prazo em muitas zonas da Síria. Esta conclusão é alcançada com base na reinvestida dos EUA, sugerindo que isso possa aumentar a perspetiva das duas áreas - no nordeste, em torno de Raqqa, e na província de Idlib – mantendo-se, assim, a autonomia de Bashar al-Assad. De facto, o conflito pode não ter terminado nem ter mudado de forma.

Os governantes europeus também não estão preparados para apoiar novos esforços em torno de Raqqa, para ajudar a reiniciar algum tipo de vida normal e governo local – além de abordar as preocupações sobre as estruturas curdas, que excluem cada vez mais a população árabe. Muitos destes governadores apontam para a ajuda humanitária como uma obrigação, salientando que a ajuda humanitária básica é necessária para evitar outro êxodo em massa de sírios para a Europa.

A mais recente cimeira sobre a Síria, que envolveu os líderes da Turquia, da Rússia, França e Alemanha pôde significar um breve vislumbre do futuro, embora os líderes pedissem uma nova constituição e eleições na Síria em 2019. A imagem transparecida foi de que a França e a Alemanha adaptaram uma agenda previamente definida pela Turquia e pela Rússia, fazendo-o sem coordenação com os restantes Estados-membros da UE, parecendo mais focados em evitar uma nova vaga de migração para a Europa do que fazer planos realistas ou intervenções políticas para um acordo inclusivo com a Síria.

Os eventos relacionados com o conflito na Síria em 2018 deixaram a UE e os Estados-membros um tanto ou quanto marginalizados. No entanto, se a UE e os seus Estados-membros estão definitivamente “fora de jogo” é difícil determinar nesta fase.

Mesmo esta ambição mais modesta vai exigir uma maior resiliência e união que não se verifica nos estados europeus. Além disso, também vai ser necessário uma reflexão do atual rumo da política externa europeia. A evolução da guerra deixa a UE à deriva do conceito de “resiliência”, visto que não está interessada em alocar mais recursos na mesma. Afinal, se “resiliência” é a capacidade de um regime absorver desavenças e voltar ao estado original, então é exatamente isso que o regime de Assad parece ter conseguido. A Europa precisa de repensar as suas prioridades rapidamente.


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