
O regime de
Assad está mais perto de vencer o conflito sírio de 2018. Com o apoio da Rússia
e do Irão, restabeleceu um regime forte e autoritário, principalmente fora da
zona de conflito onde a sua presença ainda é reduzida.
A expansão
do regime de Assad levou a que países, tanto europeus como Estados-membros da
UE, ficassem de “pé atrás”. A posição da UE manteve-se com o recuo das sanções
contra a Síria e qualquer oferta relativamente à ajuda para a reconstrução do
país dependia do regime de Assad em concordar com um processo político
inclusivo. Mas como Assad se recusava a aceitar qualquer processo deste tipo -
inclusive, alterou a política de financiamento externo, permitindo que apenas
os apoiantes do regime tenham acesso ao mesmo –, a UE não ofereceu qualquer
ajuda à reconstrução. No entanto, já foram arrecadados entre os Estados-membros
cerca de 17
mil milhões de euros para serem aplicados em desenvolvimento económico e
ações humanitárias.
Se o regime
recuperar o controlo total e a UE suspender a ajuda à reconstrução síria, a
influência europeia sobre o futuro deste país parece ser mínima. A UE parece
ter-se ausentado da última fase da diplomacia. Foi o peso
militar e diplomático turco que levou o presidente russo, Vladimir Putin, e
Bashar al-Assad, da Síria, a concordar com um espaço neutro em torno da última
oposição na província de Idlib e suspender um ataque militar. A UE não
conseguiu alcançar nada tão tangível.
É neste
contexto que os Estados europeus têm fechado ou reduzido os seus projetos em
terrenos sírios. O regime de Assad dissolveu
muitos dos conselhos locais da oposição que eram financiados pela Europa e por
organizações da sociedade civil. Os jihadistas assumiram o controlo do governo
de Idlib, levando os Estados europeus
que contribuíram a cortarem a linha de financiamento ou a reorientar a área em
torno de Raqqa para a zona leste.
Este processo levou a que surgissem outros financiadores, desta vez países
“não-ocidentais”.
Muitos
diplomatas europeus não estão dispostos a aceitar a premissa de que o conflito
está totalmente terminado, embora tendo dúvidas de que o regime possa
efetivamente manter-se e exercer o seu poder a longo prazo em muitas zonas da
Síria. Esta conclusão é alcançada com base na reinvestida
dos EUA, sugerindo que isso possa aumentar a perspetiva das duas
áreas - no nordeste, em torno de Raqqa,
e na província de Idlib –
mantendo-se, assim, a autonomia de Bashar al-Assad. De facto, o conflito pode
não ter terminado nem ter mudado de forma.
Os
governantes europeus também não estão preparados para apoiar novos esforços em torno de Raqqa, para ajudar a reiniciar algum
tipo de vida normal e governo local – além de abordar as preocupações sobre as estruturas
curdas, que excluem cada vez mais a população árabe. Muitos destes governadores
apontam para a ajuda humanitária como uma obrigação, salientando que a ajuda
humanitária básica é necessária para evitar outro êxodo em massa de sírios para
a Europa.
A mais
recente cimeira sobre a Síria, que envolveu os líderes da Turquia, da
Rússia, França e Alemanha pôde significar um breve vislumbre do futuro, embora
os líderes pedissem uma nova constituição e eleições na Síria em 2019. A imagem
transparecida foi de que a França e a Alemanha adaptaram uma agenda previamente
definida pela Turquia e pela Rússia, fazendo-o sem coordenação com os restantes
Estados-membros da UE, parecendo mais focados em evitar uma nova vaga de
migração para a Europa do que fazer planos realistas ou intervenções políticas
para um acordo inclusivo com a Síria.
Os eventos relacionados com
o conflito na Síria em 2018 deixaram a UE e os Estados-membros um tanto ou
quanto marginalizados. No entanto, se a UE e os seus Estados-membros estão
definitivamente “fora de jogo” é difícil determinar nesta fase.
Mesmo esta ambição
mais modesta vai exigir uma maior resiliência e união que não se verifica
nos estados europeus. Além disso, também vai ser necessário uma reflexão do
atual rumo da política externa europeia. A evolução da guerra deixa a UE à
deriva do conceito de “resiliência”, visto que não está interessada em alocar
mais recursos na mesma. Afinal, se “resiliência” é a capacidade de um regime
absorver desavenças e voltar ao estado original, então é exatamente isso que o
regime de Assad parece ter conseguido. A Europa precisa de repensar as suas
prioridades rapidamente.
Comentários
Enviar um comentário