Pequim, Taipé e Washington: O Desejo Chinês de Reunificação que pode culminar numa Guerra?


A divisão política entre a República Popular da China e a República da China, conhecida usualmente pelo conflito entre China e Taiwan, tem quase setenta anos de duração. A primeira, considera Taiwan parte integrante do seu território, aceitando apenas “uma só China”, sob a direcção de um só governo, liderada por um só partido, o Partido Comunista Chinês. Acresce a isto, o facto de não reconhecer o governo taiwanês e procurar isolar internacionalmente esta ilha. Assim sendo, trata-se de um conflito profundamente político, com a existência de duas entidades políticas bastante distintas com objetivos completamente diferentes, o que não permite uma solução de integração. Isto é, de um lado temos um país comunista que quer-se uno e do outro lado, um Estado Insular que pretende independentizar-se e edificar a sua Democracia. Deste modo, estamos perante um contexto mais propício à existência de “duas Chinas”, tendo sido ainda mais intensificado, com a chegada ao poder, em 2016, de Tsai Ing-Wen, do Partido Democrático Progressista, cujos pilares assentam na independência da ilha, no seu processo de democratização e na consequente não aceitação de uma reunificação.

A este conflito bilateral acrescenta-se uma terceira força, nomeadamente os Estados Unidos da América (EUA). Em março de 2018, tendo como base uma relação de cooperação “estratégica” e de defesa militar com Taiwan, o Presidente Donald Trump, promulgou a lei, Taiwan Travel Act, que incentiva os altos funcionários do país norte-americano a viajarem para Taiwan para se encontrarem com os seus equivalentes taiwaneses e incita as autoridades de Taiwan a entrarem nos EUA para se reunirem com autoridades americanas, incluindo funcionários dos Departamentos de Estado e Defesa. Trump, ao assinar este projeto indicou a Pequim que consideraria permitir contactos de alto nível com Taiwan, apesar de estes dois países não estabelecerem laços diplomáticos oficiais. Deste modo, o Presidente norte-americano provocou a China usando o "trunfo" da tão ambicionada ilha.

Em janeiro do presente ano a tensão aumentou com o começo de uma guerra de palavras. O Presidente chinês Xi Jinping afirmou a sua posição um dia após a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-Wen, ter proposto à China a resolução pacífica da disputa pela ilha, uma vez que cerca de 23 milhões de pessoas pretendem preservar o seu autogoverno. Xi Jinping, contrariamente, declarou que vai avançar na conquista e no controlo de Taiwan, acrescentando que a sua autonomia da China, foi um erro histórico. Alertou, dizendo que a unificação era o objetivo final de qualquer negociação e que se alguma tentativa para a independência taiwanesa surgisse poderia ser enfrentada pela força armada. Afirmou, ainda, que o único fim possível era “um país, dois sistemas”, tal como ocorre em Hong Kong e Macau, e que não seriam as profundas diferenças politicas, de Taiwan como uma Democracia em desenvolvimento e da China como um governo altamente autoritário, que iriam rejeitar uma unificação.

Como resposta, o Ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, veio afirmar que a reunificação com a China não era de todo uma opção. Este considera o relacionamento bilateral bastante complicado de definir, primeiro porque a China mantém uma postura ameaçadora e tenta isolar Taiwan das organizações internacionais, como já conseguiu com a Organização Mundial de Saúde,  e segundo, porque as relações de comércio e negócio estão extremamente interligadas. Todavia, reforça, que independentemente de tudo isto, Taiwan não vai ceder e pretende continuar a viver numa sociedade democrática. Wu, chega mesmo a considerar o sistema democrático a garantia para o desenvolvimento sustentável das relações entre os dois lados.

No entanto, Pequim continua a sua provocação e pretende deixar bem claro que a ideia de conflito está iminente, e exemplo disso mesmo, foi o envio de caças que sobrevoaram Taiwan, em abril de 2019. O Ministro Joseph Wu, considerou este ato intencional e extremamente perigoso.

Contudo, Taiwan não cede, tendo informado os EUA, no contexto do seu compromisso de defesa face às pressões chinesas, que queria comprar caças e tanques novos. Ou seja, podemos olhar para a potência norte-americana como um meio de fornecimento de armas e de equipamento militar. Por sua vez, face a esta alta tensão, a líder taiwanesa apelou, ainda, à comunidade internacional, por ajuda  na defesa da sua ilha e da respetiva Democracia.

A iniciativa de Pequim de reunificação, expôs a fragilidade do equilíbrio de poder no Estreito de Taiwan, sendo esta uma relação ainda mais questionada  devido à China e aos EUA que se encontram numa constante rivalidade de superpotências comerciais. Estas relações de conflito entraram num período perigoso, com uma tensão crescente e evolutiva, com Taipé cada vez mais isolado e inclinando-se para Washington, em busca de protecção da pressão agressiva de Pequim. Esta grande tensão “triangular” no fundo assenta no facto de Pequim acreditar que Washington não vai agir como reacção à pressão sobre Taiwan; Taipé querer acreditar que a China não tem planos para invadir Taiwan e Donald Trump acreditar que pode continuar a “agitar as águas” sem consequências.  Todos estão errados, apenas estão a aumentar as chances de conflito.

Inês Vieira Soares nº 222186

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