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Fonte: cartoonmovement.com |
No próximo dia 24 de abril celebra-se pela primeira vez o Dia Internacional do Multilateralismo e da Diplomacia para a Paz e poucos meses precisamos de recuar, para recordar as declarações do presidente da França Emmanuel Macron no encontro com a imprensa à margem da Assembleia Geral da ONU, onde expressou a sua intenção de usar o comércio como ferramenta do multilateralismo, numa estratégia alargada à União Europeia e mesmo às Nações Unidas. Entretanto, surgem notícias que dão conta do aumento do comércio mundial de armas, com analistas a concluir que “os cinco maiores exportadores são os EUA, a Rússia, a França, a Alemanha e a China, sendo que nos últimos dez anos a França aumentou 43% as suas vendas de armas e a Alemanha 13%".
Se por um lado a França persegue
a ambição de ter uma das políticas de exportação mais restritivas do mundo,
mesmo que de armas com destino a zonas que se encontram atualmente em conflito,
a Alemanha tenta fugir desta “armadilha”, ponderando a concretização de um embargo às exportações para a Arábia
Saudita, mostrando com prudência ter boa memória quanto à sua
responsabilidade e dever histórico de assegurar a paz internacional.
Ora, é justamente à vista
destas referências que impressionam o mundo inteiro, mesmo os mais esperançosos,
que devemos encontrar as motivações diretas da atual política externa francesa
para com organizações como a UE em geral, mas em particular com o Conselho de
Segurança das Nações Unidas. Tendo sido divulgados estes dados, em que medida
viu a Alemanha o seu lugar alterado na política
externa francesa? E quais serão as estratégias e instrumentos usados por
Emmanuel Macron nas suas relações com este país, passados mais de cinquenta
anos do Tratado do Eliseu?
Por enquanto, esta
bipartição estratégica da França entre o desígnio de um multilateralismo com
aparência de soft power (poder
normativo de influência e atração) e a aposta nas exportações de instrumentos
de ataque e guerra, designadamente armas pesadas para aplicação em hard power (poder duro e coerção),
ignora que na vida pública globalizada, e apesar dos incessantes apelos à paz, contamos
com guerras nos “quatro cantos do mundo” e "experimentamos
– hoje, ainda mais que ontem – a terrível lição das guerras fratricidas, isto
é, que a paz não pode jamais reduzir-se ao mero equilíbrio das forças e do medo",
citando a mensagem do Papa Francisco no 52.º Dia Mundial da Paz.
A imediata síntese que
retiramos deste paralelismo, “they
are both aspects of the ability to achieve one’s purpose by affecting the behavior
of others”, é que a grande aposta da França está
no reforço do seu poder real que até se pode manifestar de forma
presumivelmente “suave”, mas que não deixa de indiciar em todo o caso, que os
objetivos e as ações da política externa francesa podem estar em conflito com
os valores fundamentais e propósitos mantidos tanto pela ONU, que com efeito, no
primeiro parágrafo da Carta define o primordial objetivo da organização,
declarando que se deve
prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão, ou outra
qualquer ruptura da paz, como pela própria União
Europeia igualmente comprometida com a “conquista da paz” e com a proteção
e promoção dos direitos humanos no mundo.
Tal como afirma a Alta Representante da UE para a Política Externa e Segurança Federica Mogherini “Todos nós podemos contribuir para a escolha entre um caminho e outro". No entanto, este tipo de sinais de alerta relativos às ameaças à segurança e à paz internacional têm contrariado a posição de atores mais zelosos, que pretendem o embargo à venda de armas a países como a Arábia Saudita, nomeadamente governos nacionais e neste caso a Alemanha, que lograria muito se considerasse definitivamente a questão do desarmamento, mas também por organizações e instituições como o próprio Conselho de Segurança, presidido atualmente em conjunto pela Alemanha e pela França, que aí continua a ter um assento permanente.
Tal como afirma a Alta Representante da UE para a Política Externa e Segurança Federica Mogherini “Todos nós podemos contribuir para a escolha entre um caminho e outro". No entanto, este tipo de sinais de alerta relativos às ameaças à segurança e à paz internacional têm contrariado a posição de atores mais zelosos, que pretendem o embargo à venda de armas a países como a Arábia Saudita, nomeadamente governos nacionais e neste caso a Alemanha, que lograria muito se considerasse definitivamente a questão do desarmamento, mas também por organizações e instituições como o próprio Conselho de Segurança, presidido atualmente em conjunto pela Alemanha e pela França, que aí continua a ter um assento permanente.
É precisamente no
contexto desta presidência conjunta do Conselho de Segurança que ocorre esta
tensão no relacionamento franco-alemão, com a questão do embargo, que está a
ser internamente discutido na Alemanha profundamente dividida
em manter a venda de armas à Arábia Saudita, diante da crescente pressão da
França que vê assim
afetado o seu privilegiado relacionamento
comercial com a Arábia Saudita que permaneceu, de fato,
como o segundo maior cliente das empresas de defesa francesas, depois da Índia.
O que se espera
principalmente do “histórico eixo franco-alemão”, é que realmente “the anarchic state system of liberal Europe does not
foster distrust and insecurity because most European states understand each
other too well". Se entre estes dois relevantes atores da União
Europeia isso acontecer, o caminho para a paz internacional será definitivamente
mais esperançoso.
Nota: Para além da análise feita neste blog no âmbito da disciplina de Análise de Política Externa do curso de Ciência Política no ISCSP, da Universidade de Lisboa, este é um tema que pretendo desenvolver futuramente noutros exercícios de reflexão acerca do desarmamento e da "conquista da Paz"
Nota: Para além da análise feita neste blog no âmbito da disciplina de Análise de Política Externa do curso de Ciência Política no ISCSP, da Universidade de Lisboa, este é um tema que pretendo desenvolver futuramente noutros exercícios de reflexão acerca do desarmamento e da "conquista da Paz"
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