Coreia do Norte, a cruel história de um isolamento imposto.



”Separação! Vamos rapidamente acabar com a tragédia da divisão!” – Propaganda Norte Coreana ilustrando o trauma da intervenção Norte Americana na Guerra da Coreia e a separação imposta pela mesma ao povo Coreano.

                A República Popular Democrática da Coreia (RPDC) suscita bastante curiosidade no mundo devido a sua forma de estar única no planeta, completamente “fechada ao exterior”, pelo menos como tenta fazer crer a retórica ocidental, sustentando assim autênticas campanhas de desinformação e mentira em relação à Coreia do Norte e o seu povo. Contudo será tal estratégia reflexo de mera vontade política ou a consequência de uma realidade objetiva que condiciona internacionalmente a RPDC?
                A estratégia internacional da RPDC resulta da sua história marcada pela agressão, pilhagem e destruição protagonizada pelos EUA e os seus aliados.
    A Peninsula Coreana sofreu a partir de 1910 uma cruel ocupação japonesa que só terminou em 1945 quando, com a ajuda do exército soviético, o povo coreano libertou-se da ocupação japonesa. Porém, os Estados Unidos conseguiram impor a divisão da Coreia em duas regiões, uma, a norte do paralelo 38, sob a responsabilidade do povo coreano apoiado pelo exército soviético, outra, a sul desse paralelo, sob o domínio do exército americano apoiado nas forças reacionárias do sul da Coreia. Em 1947 a União Soviética retirou as suas tropas, contudo os EUA permaneceram no Sul com uma poderosa força militar apoiando a ditadura fascista de Sygman Rhee, força militar que aliás continua presente até aos dias de hoje e realiza regularmente exercícios em que simula uma invasão da Coreia do Norte.
Esta situação levaria a uma guerra entre as duas Coreias que se iniciaria em 1950 e terminaria com um cessar de fogo em 1953. Acusando a RPDC de invasão do Sul e aproveitando a ausência da URSS no Conselho de Segurança das Nações Unidas, os EUA instrumentalizam a ONU para intervir militarmente na Coreia aprovando a resolução 84 do Conselho de Segurança. É assim que, sob a bandeira das Nações Unidas, o imperialismo norte-americano conduz uma das agressões mais destruidoras e mortíferas até então vista. 
Calcula-se que nela morreram mais de quatro milhões de coreanos(20% da população). No Norte, a aviação norte-americana bombardeou sistematicamente cidades, vilas e aldeias, e destruiu infraestruturas basilares como fábricas, escolas e hospitais, pontes e vias férreas, barragens e culturas agrícolas. Pyongyang foi reduzida a um monte de escombros. O napalm, conhecido apenas no final da II Guerra Mundial, foi na Coreia que conheceu a sua primeira utilização sistemática a preceder os monstruosos crimes que mais tarde foram praticados no Vietname e que encheram o mundo de indignação. 
Todos estes acontecimentos cultivaram um profundo trauma sobre o povo coreano, refletido não só no tipo de liderança, com uma dinastia a funcionar como “guardiões” da revolução, mas também na própria ideologia da RPDC, o Juche, que traduz a ideia de autossuficiência. Ideia que não deriva apenas dos seus inimigos, mas também dos seus aliados. O desaparecimento da União Soviética e dos países de orientação socialista do leste europeu também constitui uma experiência traumática para a RPDC, que ao perder o seu maior aliado, sofreu uma grave crise económica nos anos 90.
É de destacar que a tentativa de ingerência por parte dos EUA não se resume á guerra da Coreia. Tal como foi denunciado por diversos presidentes da Coreia do Sul, como Kim Young-Sam, que afirmou á France Presse em 2000, “Naquela altura [1994] a situação era realmente perigosa. O governo Clinton preparava uma guerra, disse-lhe que não haveria qualquer guerra inter-coreana enquanto eu fosse presidente. Clinton procurou persuadir-me a mudar de opinião, mas eu critiquei os Estados Unidos por planearem desencadear uma guerra com o Norte na nossa terra.” 
Os EUA prosseguem até hoje uma política de ingerência e agressão contra o povo Coreano.
Vários são os que criticam o facto de a RPDC deter um arsenal Nuclear, alegando que constitui uma ameaça á paz mundial, contudo a verdade é que em toda a história apenas existiu um país que cometeu o horrendo ato de detonar, não uma, mas duas bombas nucleares. Os EUA, que face a um Japão derrotado e rendido, largaram sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, cidades cheias de civis e sem qualquer base militar, duas bombas nucleares, apenas para projetar força contra a União Soviética. Tal como Nélson Mandela afirmou, as bombas podem ter morto os japoneses, mas estavam apontadas aos Soviéticos. 
O desenvolvimento de armamento nuclear constitui assim o único elemento dissuasivo que os Norte Coreanos possuem contra os EUA, em inclusive obrigando os Estados Unidos a sentar-se na mesma mesa de negociações que os Norte-Coreanos e procurar soluções para o fim do conflito na península Coreana. É prova desta informação o exemplo da Libia e do Iraque, que sacrificaram esta poderosa arma e acabaram invadidos, pilhados e destruídos. 


Como foi possível consumar da análise histórica e da realidade atual da RPDC, o isolamento não deriva de uma escolha livre e autónoma da Coreia do Norte, mais é sim, imposto pelo Ocidente, que através de sanções, chantagens e bloqueios, tenta impor a sua vontade e visão ao povo Coreano.


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