Uma Itália “rebelde”: Um perigo ou uma lição para a União?



A 4 de Março de 2018 a história das relações diplomáticas entre a União Europeia e Itália sofreram sérias alterações. Nesse mesmo dia ocorreram as eleições legislativas em Itália, das quais resultou um governo de caráter populista e “anti-Europa”, liderado pelo “Movimento 5 Estrelas”. Os dois partidos que formam o actual Governo liderado por Giuseppe Conte (Lega Nord e Movimento 5 Stelle) sempre assumiram posições que exaltam a soberania nacional em detrimento da cooperação e integração europeias. Esta posição extremista inverte aquela que tem sido a política diplomática para com a União, visto que Itália sempre se caracterizou como um dos países mais favoráveis à integração europeia e a tudo o que isso implica (criação do mercado comum, moeda única, políticas de coesão europeia,...).
Este que foi um dos países fundadores das Comunidades Europeias reconhece atualmente algumas posições divergentes em relação à União, sendo de destacar as temáticas das migrações e da economia e finanças. Estes são os dois principais pilares por mim identificados de divergência entre os dois atores. Começando pela temática das migrações, há que ressalvar a pertença do Ministro do Interior Matteo Salvini (líder do partido de extrema-direita Lega Nord) à denominada “alleanza sovranista”, da qual fazem parte a líder da Frente Nacional francesa Marine Le Pen e o Primeiro- Ministro Húngaro Viktor Orbán. Todos eles são ligados por ideiais semelhantes de anti-imigração, eurocepticismo e nacionalismo. Esta aliança poderá ser um dos fatores que a União deve ter em conta aquando das relações com Itália, em particular. O país é uma das principais -se não a principal- porta de entrada de migrantes no continente europeu e as suas recentes políticas de não concepção de asilo a refugiados ou até mesmo a proibição da atracagem de navios de ajuda humanitária são opções que se desviam daquilo que são os ideais de cooperação da U.E e das suas políticas de imigração. Em termos economico-financeiros, é necessário mencionar o grave impasse entre os dois atores em discussão, visto que o Orçamento de Estado para 2019 apresentado pelo Governo italiano à Comissão Europeia não foi aceite pela mesma e o Governo não aceitou as recomendações feitas pela Comissão, que recomendava algumas medidas de austeridade, recusando esta competência partilhada que é a elaboração do Orçamento de Estado. As duas partes acabariam por chegar a acordo nesta matéria, havendo cedências de ambas as partes.
            A Europa necessita de estar “forte e unida”, como o presidente da Comissão Europeia Jean Claude Junker, referiu. Só desta forma é possível fazer face à emergência destes partidos anti-sistema, que contrariam os valores que estão na génese na União e desafiam o statu quo. Para fazer face a esta problemática, a U.E precisa de rever as suas políticas, em especial as de migração, visto que tem andado “à deriva” no que toca a soluções efectivas para esta calamidade, criando desigualdades no acolhimento dos migrantes e causando crises sociais graves, que podem pôr em causa o futuro da União Europeia, como poderá estar a acontecer em Itália.  
Respondendo à pergunta de partida, a situação das relações entre a União e Itália, pode pôr seriamente em perigo a estabilidade até agora conseguida pelas instituições europeias. É para mim, uma situação mais delicada que o Brexit, pois a nação italiana pertence à zona Euro e é também uma das maiores economias da Europa. Sendo uma organização europeia sui generis, há que ter em conta que os estados não encontram superior no plano interno nem externo e há que equilibrar com muito cuidado a soberania dos Estados-Membros com a soberania da União Europeia, neste caso, a soberania económica e financeira. Esperemos então pelos resultados das eleições para o Parlamento Europeu que se realizarão no próximo mês de Maio e que serão de extrema importância também para a temática aqui em análise. Se os dois partidos governantes obtiverem a maioria dos lugares italianos no Parlamento Europeu, podemos estar perante uma grave crise da zona Euro, visto que estes farão o possível para colocar em prática as suas posições extremistas. Vivemos, pois, tempos conturbados e de mudança, que precisam de uma adaptabilidade efectiva e acções concretas, sempre com a tolerância na base das negociações e das relações diplomáticas.

Fontes: 
IMAGEM: https://www.glistatigenerali.com/immigrazione/buonismo-vs-cattivismo-litalexit-e-vicina/

https://www.ecfr.eu/article/commentary_italy_in_the_eu_shared_priorities_provocative_politics?fbclid=IwAR21mQwUUs48RRbk22gR6ZiFpP-hCK3RVtX4aj0G4AxotyEJO_p5lXaGJuc
https://www.ecfr.eu/specials/scorecard/the_2019_European_election?fbclid=IwAR1-v39AaK7pur-zclS9OR1IsgpxGnc_JIP4YItGXWkWdfNhF-Sx3rII7dE
https://www.youtube.com/watch?v=CPa7-WiZ3uE

João Oliveira

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