Suspensão de Forças Nucleares de Alcance Intermédio entre os EUA e a Rússia: O renascimento da Guerra-Fria
O Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio ou Intermediate-Range Nuclear Forces, INF, como é mais conhecido foi assinado pelos Estados Unidos da América e pela, ainda então União das Repúblicas Sociais Soviéticas (URSS), atual Rússia a 8 de Dezembro de 1987. Este tratado visava a eliminação de armas nucleares de alcance curto, médio e intermédio, entre os 500 e 5.500 km, proibindo a posse, produção e realização de testes de tais armas.
Após quase uma década de negociações e com grande impulso e influência da mediação da então primeira-ministra britânica Margaret Tacher, 6 meses depois de Gorbatchev e Reagan assinarem este tratado, o mesmo entrou em vigor começando assim o período de destruição destas armas que durou 3 anos. De 1 junho de 1988 até a mesma data em 1991, foram destruídas num total de 2692 armas de ambos países, considerando que mais de metade eram russas.
No entanto, desde 2014 que os Estados Unidos têm vindo acusar a Federação Russa de violação dos termos acordados neste tratado a partir da realização de testes dos mísseis de cruzeiro terrestres, 9M729 SSC-8. As acusações dos americanos continuaram nos anos seguintes, como resposta os russos desmentiram a posse e realização de testes deste sistema de mísseis bem como de quaisquer violações do tratado e ignoraram todo tipo de pedidos de verificação de conformidade com tratado e pelos Estados Unidos e pela NATO.
A 20 de Outubro de 2018, o presidente norte-americano anunciou a saída dos Estados Unidos do INF, sigla inglesa, como consequência das violações consecutivas do mesmo pela Federação Russa bem como da falta de resposta aos pedidos de conformidade e transparência pelo tratado. No entanto, em Dezembro do mesmo ano, o secretário Mike Pompeo completou o anúncio de Trump, confirmando a suspensão do Tratado por parte dos EUA num prazo de 60 dias caso a Rússia não se mostrasse aberta para discussão ou não se demonstrasse em conformidade com o mesmo, com total apoio da NATO. A 1 de fevereiro de 2019, os EUA voltaram a pronunciar-se a cerca deste assunto trazendo para a prática o 2º ponto do artigo 15º do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio, no qual consta que :
“ Cada uma das partes, no exercício da sua soberania nacional, têm o direito de se retirar do Tratado, se decidir que eventos extraordinários relacionados com o assunto deste Tratado puseram em risco os seus interesses supremos. Deve assim, notificar a sua decisão de saída à outra Parte, seis meses antes da sua saída efetiva.”[1]
No dia seguinte, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Sergey Lavrov declarou que a posição do presidente russo, Vladimir Putin, se espelharia na decisão americana, confirmando assim, que dentro de 6 meses o Tratado verá o seu fim.
Tendo por base o contexto que fez nascer este tratado, a ratificação do mesmo bem como o seu conteúdo, o que realmente significa o facto de duas superpotências como são os Estados Unidos da América e a Federação Russa porem fim a um tratado que simbolizou o fim de uma das tensões da Guerra Fria, ou seja, o fim da corrida do armamento, criar-se-á uma nova competição indireta ?
De entre várias críticas e pontos de vista, destacam-se as motivações de ambos países para realizarem testes e produzirem armamento proibido pelo tratado, contudo é relevante realçar que, apesar dos EUA já não estarem sob as obrigações do Tratado, fazem parte da NATO, o que, até certo ponto, pode controlar a sua atividade nuclear, em contrapartida, o estado presidido por Vladimir Putin têm agora caminho aberto para tornar legal o que supostamente já faria ilegalmente, podendo, também apostar na criação de novas armas.
Para qualquer pessoa que ouve falar em armas nucleares, o simples facto da sua existência já é assustador mas o facto de já não haver controlo da produção, posse e experiência das mesmas por duas grandes superpotências como são estes dois países em particular, além de causar insegurança, traz consigo uma motivação para outras potências nucleares como a China ou o Irão, se reverem nos mesmos e utilizarem o facto de estes já não estarem sob abrigo de nenhum Tratado para entrarem nesta “corrida do armamento”. O grande problema surge na medida em que até que ponto será apenas uma “corrida” de intimidação de entre quem possui o melhor sistema de mísseis e não passará a uma ameaça real que poderá pôr em causa a nossa segurança e bem-estar.
Zahra Sulemane nº221449
Zahra Sulemane nº221449
Comentários
Enviar um comentário