Saara Ocidental, uma colónia?


Saara Ocidental, uma colónia?

O Saara Ocidental, uma questão adormecida, será este território ainda uma colonia ou um não assunto?
Colónia espanhola com o nome de Saara Espanhol desde 1884 até 1975, este território foi durante todo esse tempo apenas uma fonte de rendimento para o estado espanhol, uma colonia que nunca foi desenvolvida ou minimamente infraestruturada pela potencia colonizadora.
Após 1975 e no âmbito da última vaga da descolonização, a Espanha retirou-se do território em conformidade com as restantes potencias europeias que ao longo das décadas de 50, 60 e 70 abandonaram as suas possessões africanas. Contudo, celebrou acordos, chamados “acordos de Madrid” nos quais constava a administração territorial do território do Saara espanhol entre dois estados, Marrocos e a Mauritânia, conjuntamente com Espanha
O acordo transferia assim a administração do território, mas não a soberania, formando assim uma administração tripartida. Este mesmo acordo não tem ainda hoje, reconhecimento internacional nem qualquer validade jurídica.
Porem, em 1976 surge a frente Polisário, um grupo que proclama a independência do Saara Ocidental, sendo este representante do povo saaraui, o povo originário daquele território. A frente Polisário consegue em 1979 forçar a retirada da Mauritânia, abandonando este estado qualquer revindicação territorial, contudo o estado marroquino prosseguiu a ocupação, prolongando uma guerra que só acabaria em 1991 com um cessar-fogo proposto pela ONU. É também criada a missão minurso por parte da ONU, com o objetivo da paz e da resolução do conflito.
Apesar da criação da minurso, o diálogo entre Marrocos e a frente Polisário revelou-se sempre infrutífero, visto que as revindicações de cada uma das partes são inconciliáveis.
A frente Polisário, enquanto governo legítimo da Republica Árabe Saaraui Democrática, reivindica a independência unilateral do território.
Marrocos por sua vez recusa essa independência, consentindo contudo uma possível autonomia á região do Saara Ocidental.
Embora a frente Polisário se designe como o governo efetivamente legitimo, controla apenas 20% do território, em consequência da construção de um muro por parte de Marrocos para assegurar a permanência da sua ocupação.
O Saara Ocidental apesar de anexado a Marrocos, não é reconhecido pela ONU como parte integrante deste e desde 1984 que tem presença na União Africana, organização da qual Marrocos recusa fazer parte, sendo o único estado africano nesta circunstância.
Atualmente a situação continua sem solução, muitas vezes adormecida nas instancias internacionais e branqueada por parte de Marrocos, tendo este iniciado campanhas de promoção para que seja reconhecido como uma estado desenvolvido, livre e acolhedor.
O tempo joga invariavelmente a favor da monarquia marroquina, respaldada pela França e pela Espanha, legitimando assi m estes países atos contra os direitos humanos, nomeadamente perseguições, espancamentos públicos, desaparecimento de cidadãos entre outras atrocidades cometidas pelas autoridades marroquinas.
Na verdade, o que move Marrocos na manutenção desta ocupação são os recursos naturais presentes no território saaraui.
Um dos maiores depósitos de fosfatos do mundo, e um potencial em bruto noutras áreas, seja a extração de petróleo já exercida, seja futuramente uma aposta no turismo, são oportunidades de desenvolvimento económico das quais Marrocos não irá abrir mão facilmente.
A frente Polisário, tem tentado ao longo dos anos obter um maior apoio da comunidade internacional, bem como demonstrar a ilegalidade dos atos praticados por Marrocos nomeadamente na gestão de um território que não lhe pertence. Radicado na Argélia, país que sempre apoiou o grupo independentista, governa a chamada “zona livre”, zona essa compreendida entre o muro marroquino e a fronteira do território com o estado argelino, a partir dos campos de refugiados saarauis em Tindouf.
Assim, não é de esperar grandes desenvolvimentos no que concerne a resolução deste conflito que conta já 44 anos.
A frente Polisário não abdicará da sua declaração de independência unilateral e do seu reconhecimento como a única autoridade legitima dentro do território.
Marrocos, sabendo que a independência significa a impossibilidade da continuidade da exploração dos fosfatos bem como o abandonar de uma panóplia ainda inexplorada de opções de desenvolvimento económico, nunca reconhecerá esse direito a autodeterminação do povo saaraui.
A própria ONU, não conseguirá por em prática o seu objectivo que seria a realização de um referendo por duas razões principais.
Primeiro, as duas partes discordam em absoluto no que concerne aos termos em que deve ser realizado o referendo. A frente Polisário queria que apenas os cidadãos que estavam recenseados até 1974 votassem, o que provavelmente garantiria a sua vitoria.
Por seu lado Marrocos afirma que o direito de voto deve ser concedido a todo e qualquer cidadão que até a data desse mesmo referendo, resida no território saaraui, o que certamente lhe daria a vitoria por uma margem esmagadora, se tivermos em consideração que o território esta praticamente ocupado ininterruptamente há já 44 anos.
Segundo, Marrocos conta com o apoio da França, e com a possibilidade desta vetar no conselho de segurança da ONU qualquer ato ou intenção que ponha em perigo a soberania marroquina.
Por ultimo, façamos a seguinte analogia, Israel e a Palestina mantem á anos uma situação muito similar, que todos os dias é motivo de conversa nas instancias internacionais. Será o Saara ocidental menos que a Palestina? E Marrocos uma potencia ocupante mais branda que Israel? O futuro nos dirá


Bibliografia:

Comentários