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Em Varsóvia, a Conferência sobre o Médio Oriente, uma
organização conjunta Polónia e Estados Unidos da América, levantou muita
controvérsia.
Entre
13 e 14 de fevereiro de 2019, decorreu uma conferência para promover um futuro
de paz e segurança no Médio Oriente, em Varsóvia. Trata-se de uma conferência
organizada conjuntamente com os EUA, em solo polaco, que demonstrou a
influência norte-americana não só nos assuntos do Médio Oriente como também na
UE (ao envolver-se com um Estado Membro). No website do Departamento de Estado dos Estados Unidos são espelhados
os
tópicos discutidos na conferência
que, segundo Mike Pompeo (Secretário de Estado dos EUA) tinham como objetivo final
priorizar os conflitos regionais e, em suma, levar à discussão sobre
estabilização do Médio Oriente.
Esta
análise tem por objetivo principal compreender a posição polaca que leva à
organização da conferência, observando atores como os EUA, a Rússia e a UE no
Médio Oriente. A União Europeia cada vez mais fragilizada: considere-se
situações como o Brexit, por um lado, e, por outro lado, com os movimentos
extremistas a ganhar cada vez mais poder. Assim, perguntemo-nos: será a
aproximação EUA/Polónia “real” (isto é, em que têm interesses comuns) ou será
apenas uma reação de descontentamento e afastamento da UE?
Primeiro,
há que considerar uma posição tomada por alguns autores, como Jan Smolenski e Virginia Pietromarchi: a aproximação aos
Estados Unidos é vista, não como uma separação da propriamente da UE, mas sim
da Rússia (“Poland
is trying to establish a permanent US military presence to counter Russia's
regional ambitions.”). De facto, a ideia EUA versus Rússia, já desde da Segunda Guerra
Mundial (e estendendo-se para a Guerra Fria) sempre deixou a Polónia,
especialmente geograficamente, sem poder de decisão sobre com que lado se
alinhar. Ainda hoje, o sentimento anticomunismo e, talvez, mais “anti-esquerda”
está presente, sendo que é expressado claramente no sentido de voto da
população polaca (veja-se os dois partidos mais votados nas legislativas de
2015: PiS - partido de direita; o PO - um partido de centro-direita). Além
disso, o sentimento nacionalista e de xenofobia assola o país, voltando-se para
o protecionismo e proteção da sua nação.
Por
outro lado, a Polónia pode estar simplesmente interessada em cooperação com os
EUA, sendo que lhe poderá trazer benefícios. De facto, refira-se que o governo
polaco mostrou-se interessado em estabelecer uma base militar americana em
território polaco (Fort
Trump). Por isso, existe esta ideia de trade off: a Polónia oferece uma plataforma para o secretário de
Estado dos Estados Unidos Mike Pompeo possa afirmar-se nos assuntos do Médio
Oriente e, com isso, pretende ganhar poder para ser mais tarde efetivado o
estabelecimento da base norte-americana. Esta ideia relaciona-se também com o
facto de a Polónia querer tornar-se um ator influente no Sistema Internacional
e que, com isso, consiga impedir possíveis avanços futuros russos no seu
território.
Retome-se
agora a um ator fulcral nesta controvérsia: o Médio Oriente. De facto, a
Polónia não parece ter nenhum interesse específico ou benefício em se envolver
com as discussões de paz nesta área do globo. Claro está, que como acabo de
demonstrar, a Polónia pareceu focar-se em não contrariar e ajudar os EUA. Contudo,
falhou num detalhe. Com dependência energética da Rússia, abriu-se para a
Polónia uma janela de oportunidade de acordos comerciais com o Médio Oriente.
De facto, e nas palavras de Marcin Zaborowski (do Visegrad Insight – um think
thank sobre política externa sediado
em Varsóvia): “Iran
is a potential source of diversifying our energy away from Russia,” Disse.
“That’s all been damaged now.” (sobre o facto do Irão não ter sido convidado a
participar nesta conferência)
Por
fim, concluo com o que me parece o principal a retirar sobre a posição polaca
nesta situação concreta: é uma posição de anti-UE. Como já referi, a situação
polaca atual define-se por um descontentamento face à UE com simultâneo repúdio da influência russa. Um sentimento anti-ocidente patente na promoção da cultura
eslava, em que o protecionismo exacerbado escalou a um clima de xenofobia e
racismo em território europeu (veja-se as agressões
racistas na Polónia a uma aluna do ISCSP portuguesa).
Com
os movimentos extremistas a intensificarem-se, com um governo pesadamente
conservador, com o papel da Igreja na política polaca (que determina as
questões taboo, como o caso do
aborto), a Polónia distancia-se dos ideais da UE, secular e livre. Claro está,
estes ideais ocidentais, eurocêntricos.
Refira-se
também a posição polaca em relação ao acolhimento dos refugiados que, apesar de
não tão falada quanto as declarações de Orbán é perigosa e contra as diretivas
da UE (veja-se o presidente Andrzej Duda a referir-se à vinda dos refugiados como possível causador de uma
epidemia).
Em
suma, a Polónia, ao centro (geográfico) da Europa, não quer ser subjugada ao à
pressão ocidental, por um lado, nem ser engolida pela Rússia. Considerando a UE
ativou o artigo 7 sobre as violações do Estado de Direito na
Polónia, surge uma questão: se a
Polónia não se identifica com ocidentalismo na União Europeia e se os ideais
basilares da UE não são cumpridos pela Polónia, deve esta fazer parte deste
projeto?
Na imagem utilizada para ilutsrar esta análise pode ver-se, da esquerda para a direita: o Vice Presidente dos EUA Mike Pence, Presidente polaco Andrzej Duda, e Primeiro Ministro israelita Benjamin Netanyahu.
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