Escócia: da timidez à interacão internacional


      Neste momento, em pleno 2019, à medida que o fim do Brexit se aproxima, a Escócia procura forjar um papel na vida internacional mais vincado, papel esse articulado com a independência. Num tabuleiro de xadrez assente na globalização, um joga para a frente, para a integração europeia, o outro joga à defesa, com uma postura ligeiramente proteccionista.
A Escócia é um dos países do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, rodeada pela  Inglaterra a sul e pelo Oceano Atlântico. Já com longa história dentro do Reino Unido, uma união política  que está formalizada desde 1 de Maio de 1707, para unir até aos tempos de hoje os três países, mas que, no seguimento dos acontecimentos recentes poderá não ser durante muito mais tempo.
É fundamental compreender que as dinâmicas internas dentro da união, impulsionam o país escocês à procura do externo. Dentro do Reino Unido, a Escócia deu passos em 1998 para sair da sombra de Inglaterra e tomar o seu lugar como um capaz decisor, através do Ato da Escócia que conferiu poderes ao novo Parlamento escocês, quase três séculos depois de terem perdido esse órgão. Este ato foi sem dúvida um desenvolvimento político para a separação estatal, ainda no entanto com fraca imagem internacional do país. É verdade que votaram no referendo de 2014 para se manterem no Reino Unido, o que terá acontecido entretanto para levar ao foque na política externa? O Brexit.
Sabe-se que dois terços dos votantes escoceses de cada distrito votaram no referendo de 23 de junho de 2016 para ficar na União Europeia, mas não é só sobre este assunto que os países dos ainda atuais países do Reino Unido discordam. Os sentimentos anti-imigração que impulsionaram os votantes da saída, contrastam com as políticas da Escócia, que percecionam a entrada de imigrantes como solução para uma população envelhecida e como contínuo processo de aproximação à Europa e à comunidade internacional.
As políticas recentes da Escócia, principalmente depois do Brexit, parecem concentrar-se num esforço de afirmação do país no palco global sobre uma nova imagem de marca, assente no slogan “Escócia é Agora”. Numa clara tentativa de dissociação da união política britânica, investem seis milhões de libras, em campanhas publicitárias, produção de imagem e criação do site “Scotland is Now”, onde se pode ler: “Agora estamos a criar oportunidades e padrões que estão a fazer o mundo sentar-se e prestar atenção”. Neste site, desenvolvido mediante a campanha “O Espírito Global da Escócia”, a página principal apresenta as opções; Sobre a Escócia; Viver; Trabalhar; Estudar; Negócios; Eventos e Festivais. Estas convidam, literalmente, a população internacional a realizar qualquer uma destas atividades no território escocês, fazendo tal como o site demonstra, o mundo sentar-se e observar tudo o que a Escócia tem para oferecer.
Ao longo dos últimos anos têm-se intensificado as relações internacionais com Agências de Governo e centros de pesquisa, em Pequim, Washington, Dublin, e agora, principalmente, com um parceiro que Fiona Hyslop, do Gabinete Escocês da Cultura, Turismo e Assuntos Externos diz ser de extrema importância e com imenso peso dentro da União Europeia, a Alemanha.
A criação do gabinete representativo escocês no país germânico, permite a combinação do reforço dos contactos governamentais, assim como a promoção do turismo, o mercado de trocas e centros de pesquisa. Este fator também é importante para aumentar o alcance do Alba, na Europa Central em particular e no Balcãs, que são incluídos no reforço das relações, cumprindo-se assim gradualmente a Estratégia Escocesa dos Balcãs Nórdicos, de 2017. Um país que durante tanto tempo se manteve neutro avança para a ação proactiva, de forma a garantir a promoção e proteção dos seus interesses nacionais, cuja ambição do governo escocês para a independência possui fundações internacionais.
No desporto, o motor que tanto move muitos europeus, também passou a intervir, tendo coorganizado com a Alemanha, a primeira edição do “European Championship” em 2018. A atenção de que usufruíram e ainda usufruem não é coincidência, mas sim um processo de decisão inteligente, conhecedor e focado no internacional, tal como FionaHyslop afirmou meses antes do campeonato “as pessoas estarão fisicamente presentes tal como a ver por toda a Europa”, essa presença que trouxe investimento, turistas, mas mais importante, uma perceção diferente da Escócia como país.
Igualmente, a recente atenção nas exportações revelam a viragem do país para fora, para o internacional. Estatísticas sobre o mercado global apresentadas no início do ano, mostram que apesar do mercado de exportações da Escócia ser ainda alguma parte para o Reino Unido, as suas exportações para a União Europeia são o dobro comparadas com outros países da união britânica, encontrando-se a crescer. Segundo Nicola Sturgeon, Primeira-Ministra da Escócia, as medidas necessárias para que o Brexit não provoque o isolamento da Escócia já estão em andamento, medidas que garantem a “expansão da presença” do país principalmente na Europa, mas também nos Estados Unidos da América e no Canadá.
Certos países como a Espanha, devido à questão da Catalunha, a Eslováquia, a Romania, Grécia e Chipre apresentam-se verbalmente como obstáculos à reintegração da Escócia na União Europeia, no seguimento da sua suposta independência, assunto que também é contestado pelo Reino Unido.  No entanto, paira no ar escocês o sentimento de que a Escócia pode de facto desenrolar o papel do país, que apesar de pequeno, é composto por cidadãos globais responsáveis que são capazes de desempenhar um papel forte nos assuntos sobre o ambiente e os direitos humanos.
A crescente complexidade da sociedade internacional provoca em grande parte a dificuldade na previsibilidade das ações dos atores, mas torna-se clara a diferença entre a Escócia e a Inglaterra que apenas irá continuar a crescer, tal como já foi afirmado pelo diretor do Centro Escocês sobre as Relações Europeias. O Brexit em grande medida, e num futuro mesmo que afastado, veio apresentar-se como a janela de oportunidade da Escócia, que esta inteligentemente soube aproveitar, através de fortes ações de marketing, da diplomacia económica, das práticas discursivas, do desporto, do espaço académico e do reforço de alianças.
Veio-se a revelar, neste momento, a adaptabilidade das ações do país escocês face às alterações da política internacional. Este é o momento da Escócia, este é o momento de se afastar das amarras do Reino Unido, este é o momento de se lançar ao mundo como possivelmente país independente e respeitado, esse momento é o Agora. 

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Cartoon, fonte: https://www.sytycdism.com/barrier-cartoons.html 
Susana Rodrigues


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