China-África, uma forma de colonialismo ou uma relação de cooperação e beneficio mútuo?

China-África, uma forma de colonialismo ou uma relação de cooperação e beneficio mútuo?

A linha férrea Nairobi-Mombaça é um investimento chinês de 3,3 mil milhões de dólares visando ligar o interior da África Oriental ao estratégico porto de Mombaça. Maio de 2017, Nairobi, Quénia.


                A crescente presença chinesa no continente africano tem levantado preocupações ao mundo Ocidental devido ao facto de colocar em causa as velhas relações de neocolonialismo que perpetuam a dependência africana face ao Ocidente. Preocupações que se espelham na intensificação das campanhas de desinformação e propaganda anti-chinesa, chegando à hipocresia de comparar as relações sino-africanas ao tipo de dominio que o mundo ocidental ainda exerce sobre o continente africano.
A China, com um desempenho da sua economia que resistiu melhor ao crash capitalista de 2008, conseguiu proporcionar à África e a outros países parceiros um pouco de descanso do caos e quase colapso que envolveu o Ocidente. E os laços sino-africanos têm se vindo a fortelecer, com o volume do comércio bilateral a registar um aumento de 10,6 mil milhões de dólares em 2000 para 170 mil milhões de dólares em 2017, e segundo dados do Ministério das Relações Exteriores da China, o investimento estrangeiro direto chinês em África atingiu os 41 mil milhões de dólares em 2017.
Porém os números não dizem tudo. As relações sino-africanas estendem-se para lá do comércio, com o desenvolvimento das forças produtivas nacionais dos Estados Africanos, a construção de infraestruturas base, como caminhos de ferro, estradas, portos, pontes, escolas, hospitais, fabricas e também registando uma componente forte nos recursos humanos, com o incremento de capacidades da força de trabalho através da sua formação e transferência de tecnologia.
Em 2002, menos de 2 mil alunos africanos estudavam em universidades chinesas. Em 2015, esse número chegava aos 50 mil, com a China a assegurar anualmente 30 mil bolsas de estudos para alunos africanos.
                O Crescimento Chinês em paralelo com o declinio ocidental tem levado a que sejam produzidas autênticas campanhas de fake news que distorcem a presença chinesa no continente africano.
A primeira fakenews é que China está em África apenas para extrair recursos naturais. Porém os dados evidenciam o contrário, somente em 2014, as empresas chinesas assinaram mais de 70 mil milhões de dólares em contratos de construção em África, destinados à construção de infraestrutura vital, promoção de empregos e o incremento das capacidades da força de trabalho nativa.
Outra fakenews persistente é que as empresas chinesas empregam principalmente os seus compatriotas, contudo a grande maioria dos funcionários das empresas chinesas é contratada localmente. Os acadêmicos Barry Sautman e Yan Hairong, de Hong Kong, entrevistaram 400 empresas chinesas que operam em mais de 40 países africanos e chegaram à conclusão que mais de 80% dos trabalhadores são locais.
A mentira mais recente é que a China tem um apetite insaciável pelas terras africanas, e tem inclusive, um plano para enviar grupos de camponeses chineses para cultivar alimentos em África que depois serão importados pela China. Todavia, Deborah Brautiga, especialista nas relações sino-africanas, através do seu livro, Will Africa feed China?, verificou que de quase 15 milhões de acres que as empresas chinesas supostamente adquiriram, apenas existiam 700.000 acres, e os maiores cultivos eram plantações de borracha, açúcar e sisal. Nenhum deles cultivava alimentos para exportação para a China.
Também para lá do que os média Ocidentais tentam passar, os Africanos vêm com bons olhos a presença chinesa e os laços de amizade que se vão fortelecendo entre os dois polos, com quase 63% dos africanos a consideram a influência chinesa muito ou um tanto positiva.
O modelo chinês, assente no financimanto de projetos e cedência de emprestimos sem juros, distancia-se assim do envolvimento das potências ocidentais, que através das suas instituições internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, que funcionando como credores de último recurso, impõem um conjunto de condições altamente prejudiciais para os paises que contraiem os seus emprestimos. Condições que passam pelo desmantelamento do Estado social, a privatização de setores chave da economia como a Banca, a Energia, as Telecomunicações, os Transportes e infraestruturas, o corte nos salários e dos direitos á educação, saúde e proteção social. Essencialmente, se um país precisa de dinheiro e recorre a estas instituições, este é forçado a passar por um regime de austeridade que impede o desenvolvimento e mergulha o seu povo num mar de pobreza, exatamente como estava antes, só que agora com um pesado fardo de dívidas e uma economia totalmente dominada pelo grande capital transnacional e pelas potências neocoloniais.
Apesar do beneficio mútuo entre os Estados Africanos e a China, há quem saia prejudicado, nomeadamente os Estados Ocidentais, que finalmente são forçados a descolonizar por completo o Continente Africano.
A China não entrou na corrida da hegemonia mundial para perder contudo está a fazer com que essa hegemonia possa coexistir com o desenvolvimento de outras regiões, nomeadamente África. Um desenvolvimento assente na cooperação, no beneficio mútuo, no respeito pela soberania de cada país e do ambiente, e na manutenção da paz, recusando a lógica da corrida aos armamentos pressionada pelos interesses das indústrias de armamentos.


-Gonçalo Francisco, 221446.

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