China-África, uma forma de colonialismo
ou uma relação de cooperação e beneficio mútuo?
A crescente presença
chinesa no continente africano tem levantado preocupações ao mundo Ocidental
devido ao facto de colocar em causa as velhas relações de neocolonialismo que
perpetuam a dependência africana face ao Ocidente. Preocupações que se espelham
na intensificação das campanhas
de desinformação e propaganda anti-chinesa, chegando à hipocresia de
comparar as relações sino-africanas ao tipo de dominio que o mundo ocidental
ainda exerce sobre o continente africano.
A China, com um desempenho da sua economia que
resistiu melhor ao crash capitalista de 2008, conseguiu
proporcionar à África e a outros países parceiros um pouco de descanso do caos
e quase colapso que envolveu o Ocidente. E os laços sino-africanos têm se vindo
a fortelecer, com o volume do comércio bilateral a registar um
aumento de 10,6 mil milhões de dólares em 2000 para 170 mil milhões de dólares em
2017, e segundo dados do Ministério das Relações Exteriores da China, o
investimento estrangeiro direto chinês em África atingiu os 41 mil milhões de
dólares em 2017.
Porém os números não dizem tudo. As relações
sino-africanas estendem-se para lá do comércio, com o desenvolvimento das
forças produtivas nacionais dos Estados Africanos, a construção de
infraestruturas base, como caminhos de ferro, estradas, portos, pontes,
escolas, hospitais, fabricas e também registando uma componente forte nos
recursos humanos, com o incremento de capacidades da força de trabalho através
da sua formação e transferência
de tecnologia.
Em 2002, menos de 2 mil alunos africanos estudavam em
universidades chinesas. Em 2015, esse número
chegava aos 50 mil, com a China a assegurar anualmente 30 mil bolsas de
estudos para alunos africanos.
O Crescimento Chinês
em paralelo com o declinio ocidental tem levado a que sejam produzidas
autênticas campanhas de fake news que distorcem a presença chinesa no
continente africano.
A primeira fakenews é que China está em África
apenas para extrair recursos naturais. Porém os dados evidenciam o contrário, somente
em 2014, as empresas chinesas assinaram mais de 70 mil milhões de dólares em
contratos de construção em África, destinados à construção de infraestrutura vital, promoção de empregos e o
incremento das capacidades da força de trabalho nativa.
Outra fakenews persistente é que as empresas
chinesas empregam principalmente os seus compatriotas, contudo a grande maioria
dos funcionários das empresas chinesas é contratada localmente. Os acadêmicos Barry Sautman e Yan Hairong, de Hong Kong, entrevistaram 400 empresas
chinesas que operam em mais de 40 países africanos e chegaram à conclusão que mais
de 80% dos trabalhadores são locais.
A mentira mais recente é que a China tem um
apetite insaciável pelas terras africanas, e tem inclusive, um plano para
enviar grupos de camponeses chineses para cultivar alimentos em África que depois
serão importados pela China. Todavia, Deborah Brautiga, especialista nas relações sino-africanas, através
do seu livro, Will Africa feed China?, verificou que de quase 15 milhões
de acres que as empresas chinesas supostamente adquiriram, apenas existiam
700.000 acres, e os maiores cultivos eram plantações de borracha, açúcar e
sisal. Nenhum deles cultivava alimentos para exportação para a China.
Também para lá do que os média Ocidentais tentam
passar, os Africanos vêm com bons olhos a presença chinesa e os laços de
amizade que se vão fortelecendo entre os dois polos, com quase 63% dos africanos a consideram a influência chinesa muito ou um
tanto positiva.
O modelo chinês, assente no financimanto de
projetos e cedência de emprestimos sem juros, distancia-se assim do
envolvimento das potências ocidentais, que através das suas instituições
internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, que funcionando como credores de
último recurso, impõem um conjunto de condições altamente prejudiciais para os
paises que contraiem os seus emprestimos. Condições que passam pelo
desmantelamento do Estado social, a privatização de setores chave da economia
como a Banca, a Energia, as Telecomunicações, os Transportes e infraestruturas,
o corte nos salários e dos direitos á educação, saúde e proteção social.
Essencialmente, se um país precisa de dinheiro e recorre a estas instituições, este
é forçado a passar por um regime de austeridade que impede o desenvolvimento e mergulha
o seu povo num mar de pobreza, exatamente como estava antes, só que agora com
um pesado fardo de dívidas e uma economia totalmente dominada pelo grande
capital transnacional e pelas potências neocoloniais.
Apesar do beneficio mútuo entre os Estados
Africanos e a China, há quem saia prejudicado, nomeadamente os Estados Ocidentais, que finalmente são forçados a
descolonizar por completo o Continente Africano.
A China não entrou na
corrida da hegemonia mundial para perder contudo está a fazer com que essa hegemonia possa coexistir com o
desenvolvimento de outras regiões, nomeadamente África. Um desenvolvimento
assente na cooperação, no beneficio mútuo, no respeito pela soberania de cada
país e do ambiente, e na manutenção da paz, recusando a lógica da corrida aos
armamentos pressionada pelos interesses das indústrias de armamentos.
-Gonçalo Francisco, 221446.
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