Aviação e Globalização – O Caso do Boeing 737 Max

"Tudo isto são relações entre elementos da realidade internacional"

No dia 10 de Março o avião Boeing 737 Max, o mais recente modelo do avião comercial mais vendido do mundo, despenha-se na Etiópia, causando a morte dos 157 passageiros a bordo. Nos seguintes instantes, sem uma grande quantidade de informação disponível, na tentativa de procurar respostas para tal tragédia, considerou-se a possibilidade de um atentado terrorista, embora rapidamente descarda. Esta apontava para dois principais suspeitos: o al-Shabab, grupo terrorista do Quénia (o destino do avião) e o grupo da Etiópia, Frente de Libertação de Oromo que teria movimentações políticas na área do aeroporto.

Após a relação estabelecida entre este e o último grande acidente da companhia com um avião do mesmo tipo, em Outubro de 2018, e o seguimento da caixa negra para Paris na quinta-feira seguinte ao acidente; conclui-se que ambos apontavam para a mesma falha: o software do avião, o MACSManeuvering Characteristics Augmentation System.

O MCAS é um sistema de alta tecnologia capaz de detetar se o avião está a subir de forma excessivamente vertical e, com o intuito de o corrigir, o inclina para baixo, de modo a que o ar não corra indevidamente pelas assas e cause uma eventual quebra estrutural. O objetivo deste software é suportar os novos motores introduzidos neste modelo; mais potentes, maiores e mais pesados mas mais eficazes a nível energético.

Apesar da garantia da sua segurança e qualidade, a Boeing e a Administração Federal de Aviação (FAA) foram acusadas por diversos pilotos, incluindo o porta-voz da associação que representa a American Airlines, de terem menosprezado problemas sérios com o novo sistema de software. A mais grave acusação feita por este porta-voz foi a de que os pilotos não foram notificados em relação à introdução deste novo software; com o argumento de que este iria “espantar”, ser demasiado para pilotos medianos.

Ainda assim, a garantia de segurança da FAA é tremida: por um lado, afirmava em comunicado, a 11 de Março, ser prematuro a relação entre este e o acidente de Outubro transmitindo que o software é, de facto, seguro; por outro lado, envia uma mensagem oficial, dois dias depois, a anunciar a suspensão de toda a frota Boeing 737 Max “operados por companhias aéreas norte-americanas ou em território norte-americano”.

Uma crise de credibilidade foi gerada em volta da empresa e o seu valor no mercado sofreu quedas brutais: um dia após o desastre, as suas ações chegaram a cair 12%, tendo fechado em menos 5.53% nesse dia. O impacto estendeu-se ao índice Dow Jones, um dos maiores e historicamente mais observados índices da bolsa valores; incorporando 30 grandes empresas com ações disponíveis para o público em geral, incluindo ações de gigantes como a Walt Disney ou a Miscrosoft.

No entanto, e em coerência com o que foi anteriormente mencionado em relação ao MCAS, especialistas internacionalmente conhecidos, como Nuno Rogeiro, garantem a eficiência da Ethiopian Airlines e apontam como causa do desastre a relação entre o treino profissional de pilotos e o software recentemente introduzido nos aviões. O problema é, portanto, descrito como um “problema de construção” e não um erro humano ou da própria companhia aérea Etiópia.

Neste contexto, a resposta da concorrência do mercado internacional não tardou a chegar. Uma companhia russa produz o Irkut MC-21, um concorrente substituto do Boeing 737 Max, no gigante “mercado dos aviões alongados” – mais largos que um avião normal e com motores bastante potentes e muito eficientes a termos de energia, sendo que, o único problema destes motores é serem potencialmente demasiado pesados para o avião. Num mercado globalizado, citando Rogeiro, “quem perde está sempre vigiado por quem ganha.”

A nível de mercado interno nacional, o que poderá representar este acidente para a economia portuguesa? A economia portuguesa poderá ser afetada pelo impacto que a Boeing tem em Évora e Alverca; isto porque, a Boeing tem uma parceria com a Embraer, a principal acionista das fábricas de indústria aeronáutica em Évora e Alverca na OGMA – Industria Aeronáutica de Portugal.

Este tipo de grandes indústrias em áreas mais periféricas do país são crucias para a empregabilidade, crescimento económico e consequente desenvolvimento económico destas zonas. Nesse sentido, os trabalhadores destas zonas estão atentos aos movimentos da empresa no mercado e aos desenvolvimentos da investigação. Por agora, a termos de volume de negócios, sabe-se que existem mais de quatro mil aviões Boeing 737 encomendados por linhas aéreas de todo o mundo e que Portugal não encomendará nem comprará nenhum destes aviões.

Desde início que o desastre aéreo se transcende: inicialmente, encontra possíveis ligações a grupos terroristas e; com o avançar das buscas, vêm os impactos na bolsa de mercados, no âmbito da concorrência mundial que carateriza o mercado livre e até na economia nacional portuguesa. Tudo isto são relações entre elementos da realidade internacional que tanto cooperam como competem entre si; intrínsecas a um mundo globalizado e interdependente.

Beatriz Cardoso Ribeiro

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